Talentosos, perfeitos, bonitos, cheirosos, charmosos e modestos:

domingo, 12 de dezembro de 2010

Sereia do pombo

Um metro, dois decâmetros, três hectômetros. Quatro milhões de quilômetros asfaltados mostram-se ainda mais infinitos quando separam teu rosto das minhas mãos.
Minha boca foi molhada pela tua há pouco, mas já se mostra seca. Torce ela para que seque até tornar-se areia da praia, onde vais deitar, e tocarei em toda parte do teu corpo alvo. Pudera, também, a boca ser molhada por ser água do mar, e te balançar no ritmo das ondas, num ritmo angelical p'ra acalantar tua alma. Daí abraçar teu corpo por todo lado, e provar da pele salgada que aos peixes seduz.
Pequena sereia/Sereia de rúbios cabelos descendo-lhe o ombro, que faz o simples siri deixar sua morada para apreciar cada curva do teu corpo. Linguados, namorados e caçonetes oferecem suas almas por alguns segundos de atenção da ruiva brilhante. Mas seu coração está ligado a outro. Não sereio, não peixe, mas pombo urbano. Daqueles que se tacam perante automóveis, sem medo de partir pra outro mundo. Mas a rota do pombo é desviada, quando vem em mente a sereia, e sua feição risonha, alegre, o som de suas risadas e da voz macia.
O pombo ainda vive, feliz por saber que a Sereia há de criar pernas, e fugir da costa, vindo em sua direção. Mas, por enquanto, estão separados por um metro, dois decâmetros, três hectômetros, Quatro milhões de quilômetros.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Soneto do ócio

Do ano proveito me resta espera
E de quem espera esperam os lares
E o gosto gostoso de pisar terra
E o nado bom de nadar pelos mares

Enquanto isso, o ócio impera
E brado por não fazer o que fazes
Viajar nos ângulos, cubo, esfera
E no temor que os números trazem

O relógio grita em rouco tom
Pensa que já o amanhã nasceu
Relógio, é claro, não está são

Não vi Sol algum, mas calor gemeu
Subiu poeira sem graça do chão
Assobiou o pássaro qu'ontem morreu

domingo, 21 de novembro de 2010

Ônibus

O ônibus está cheio, mas está vazio. Cheiro de minutos atrás sendo transposto pelo odor de daqui a pouco. O calado ao meu lado tagarela silencio. O vento sopra, o vento chora.
Tudo o que eu queria era um condutor amigável, que me perguntasse, sorridente: -Esta é tua amada? Fica com ela, mancebo contente! Aviso tua mãe do atraso, e omito tuas peripécias.
Obrigado, Severino-da-mão-no-câmbio, mas não é permitido. Mamãe jaz na poltrona, à luz de meia vela, sangrando o relógio com os olhos, esperando minha pessoa.
É tempo perfeito para realizar meu sonho (infantil, confesso) de romper o lacre da ventana, saltar para longe do motorizado, e correr, banhado de luar, até a sombra vermelha no muro esverdeado, e mirar a íris verde no quarto avermelhado.
Quero sonhar o meu sonho, onde se faz um cinema. Um filme de amor com a atriz favorita. Peço ao divino que a tela intocável torne-se teatro, onde toco-lhe a tez, onde o sonho não sonha; onde a imagel é real, e o líquido jorra.
Mas acordo do sonho. Estou descendo na parada pública. Faço dos três degraus uma escadaria ao inferno. Desço pra dizer, de vez, que não estou mais lá: sem envolcro, sem calor de corpo frio. Obrigado, ônibus!, real barca do tinhoso!
269 razões pra correr de volta.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Chaminés,

O homem,que será?
...
Que será esse ser,que nem em sua própria reflexão consegue se resumir?
Que serão seus gestos,vociferações e gírias?
Que serão seus devaneios e desejos?

O que será?!


E que será de suas fêmeas?
...
Que será dessas que se dão e não dão?
Que se temos não temos?
Até o fim?

E as chaminés?
Aquelas que defumam o cheiro-homem?
Suspendendo o enxôfre e só deixando as rosas?
Multicoloridas,pra que as beijemos e inalemos em nossos fundos e numerosos respirares...

AI,as rosas!
AI,as damas da noite!
AI,a doce senhora!

E o que será de mim??
Eu vos pergunto...
...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Luminária

Sente-se ao meu lado e provaremos dos cantos da vida. Venha, sente-se ao meu lado para que proseemos um pouco.
Venha! Não se embasbaque! Não mordo, só vocifero palavras estranhamente confortáveis. Olhe nos meus olhos! Vê um novo horizonte, repleto de novas ideias?, de monstros amigáveis prontos para levantar vôo na tua direção?
Pois bem... cá estamos. Entreolhemo-nos. Olhando-nos ao mesmo tempo, na mesma intensidade, para mostrar aos presentes ausentes que nosso amor é atrevido como os arranha-céus, que vêem o infinito como se pudessem tocá-lo. Toquemos nós no infinito, no amor infinito, na chama ininterrupta abastecida de calor eterno.
Podemos, sim, trocar carícias, levemente levêdas; de forma sutil e, digo mais, tântrica.
Deixe-me observar teus olhos crescendo, teus membros me tocando, teu corpo me fazendo estátua, pelo quão abísmico é teu formato.
Não se ouve mais o doce sabiá. Quer que ele volte ao seu galho, próximo às ventanas?, cantarolando suas acidentais composições? (...) Tens razão. A respiração traz sensações sensíveis ao não se ouvir o antes audível som da natureza peralta.
Um e um não mais formam dois, mas somente um, entrelaçado em meio a sentimentos indubitáveis de afeto, mas nunca perdido em meio a eles. Há sempre a direção, que é seguida inconscientemente, e o corpo navega.
Agora somos um todo. Agora tu és toda, agora sou todo. Meu, seu, nosso, fechado; mas mostrando a todos, sem querer, que somos um conjunto de dois. Qualquer gralha vê, qualquer canário vê. Basta ler nas linhas verdes de teus olhos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Palmas

O barulho da chuva parece barulho de palmas
Batem palmas pro silêncio rouco da cidade nua
Silêncio enfim alcançado, já tarde,
Na cidade que repousa à luz da lua


E amanhã acorda cedo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Leite

O moço pega no pau
A moça pega no pau
O moço trabalha no pau
A moça trabalha o pau

O suor do sofrimento
O suor da diversão
O choro, o tormento
O bom ato da felação

O moço tira lá do pau
O que a moça faz o pau soltar
O moço aprecia a seiva
A moça aprecia o gozar

O que a moça deleita
O moço não aproveita
Na condição talvez aceita
De não ter tempo de parar

Da matéria do prazer
O moço tira o seu sustento
Do produto do sustento
A moça tira seu prazer

Prazer de poder fazer
Sem ter mesmo que fazer
De jogar fora uma vida
Antes, pasmem, de nascer

Ao que o moço acreano
De nascença alagoano
Faz sem ter algum engano
Mais um pra tirar do pau

E a moça e o moçoilo
Ambos jovens afoitos
Se aproveitam pelo coito
Do cabeça chata morto

Morto e frígido.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Visão da Divisão.

Me acordo fora,completamente fora.O som não é de instrumento,qual violino ou harpa,somente a polifonía que me atenta e me abre as pálpebras relutantes.
Pego a porra da caixa,plugada no moderno aparelho nojento,vibrando duas circunferências metalico-espelhadas e a ponho num banho de vapor d'água enquanto me lavo do suor noturno.Ainda fora,masturbo-me,inflo meu ego sozinho,por completa covardia e orgulho sápien,pra depois enrrolar-me em uma toálha e ir vestir o nojento emblema de uma instituição escolar.
Chego,me alieno,adapto-me ao ambiente,entrego o certificado,enojo-me com os tratamentos dos imbecis que "comandam" aquilo,durmo na introdução aos Nematelmintos.
Meu ambiente urbano pós-massacre mental,percebo,possui trilha sonora variada,indo de Messer Chups ao Bezerra. NÃO ESCUTO UMA VOZ SEQUER.
Penso,ando,inalo monóxido de Carbono sem medo dos meus pulmões, e ele me olha como se nunca tivesse visto ninguém como eu.Diz que morreria por mim,mas ora orgão maldito,me poupe.
Casa,o aconchego,o poder,o querer.Monstros,Por toda parte,engulo minha comida e me fecho no quarto(ME FECHO),pois a porta entreaberta poderia me render a visão de alguma criatura que só minha mente idiota consegue conceber me piscando os olhos com uma face doce.
Acordo pós pesadelos e penso que deveria ter feito,deveria ter...deveria...ter...
Mal me dou conta de quem sou(nunca me dei conta),me encontro em Marte,numa estação espacial construída por seres humanos idiotas,com seres demoníacos.SOU UM SOLDADO.
Ahhh,a melhor parte,outra assepsia completa dessa carcaça nojo que tenho por corpo,pra depois ver pessoas refletidas num leito de plasma,mais nojentas que eu,falando coisas que ninguém precisa saber,só eles.Mas vejo,gosto, não chacoalho a imagem e me cego...só vejo.
Só Vejo...
Vejo Só...
Vejo um Só...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Química (Volume único)

Um benzeno, dois eteno
Um alcano e um alqueno
Um etino, um propeno
O aldeído metanal

Pois que mero propanal
Tem, como tem, três carbonos,
A família lá do Bromo
Veio logo protestar

'Sou que sou desinibida
Faço covalente dativa'
Disse a molécula atrevida
Louca pra se estabilizar

O Anel Aromático, como sempre, problemático,
Pediu ao grande Cátion que cuidasse do seu filho
O estimado filho, Ácido Carboxílico, apelidado Isobutírico
Pôs-se logo a chorar

Queria ficar com dona Cetona,
Mas a tal bobalhona tinha ligação pi
Instável, que só ela, Seu Haleto não dá trela:
'Quieta, velha maluca, Van der Waals tá vindo aí!'

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Raiva!

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! - Disse o menino.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pés calejados

No tempo livre acabo me deparando com alguma atividade que não me permite vivenciar o nada do acaso sereno. Com papel moeda em mãos, ponho-me a cavalgar em meus próprios membros, fazendo destes pés que me locomovem, meu honorável alazão, que me carrega ao encontro da mais bela face feminina. Mas o encontro com a amada torna-se um pretexto para flauteação. Sem mais delongas, corro à filial do controle monetário nacional. Com policiamento exemplar, me tiram do sério ao procurar metais por dentre meu corpo. Encontraram somente um cano humano, na região pubiana. Após o constrangimento, nada mais agradável que transitar numa passagem giratória envidraçada. O vidro me revela uma aglomeração singular de indivíduos numerados (jovens, idosos e já grisalhos) que esperam, em sua maioria, seu sustento mensal; ou, como eu, apenas tentando fazer o pagamento para o que se tornará uma porta para o futuro, mas em formato de papel. Ali esperei, esquecendo-me dos outros afazeres, por não ter quase nenhum significativo, e realizando-me mentalmente como profissional honesto. E fiz isso durante 3 horas, na fila do Banco do Brasil, pra pagar a inscrição do ENEM.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Doravante, canários!

Defensores da pátria ao ritmo de anos bissextos, tarados pela marca, fissurados em inserção. Torturando neurônios ao divagar acerca do impedimento, mas limitando as pequeninas células nervosas ao que se gargareja o etílico sabor do líquido proibido. Questionando as tarjetas rubras, sem ao menos ter ciência da constituição esportiva. Defanando o pobre senhor, já calvo, que não ostenta vestes numeradas, mas que tem em mãos um pequeno objeto sonoro, que pode calar o incalável som africano proveniente dos assentos. Oh, som dos assentos, que vagam pelo mundo. Tal qual a rebolação internacionalizada, tornou-se epidêmico o uso do instrumento primitivo, que acorda o espectador no momento exato; momento exato de balbuciar sons que nos remetem ao hino da pátria, ao que uma flâmula nacional não flamula ao lado dos onze escolhidos. Uma nação está ali. Uma nação que se esconde. Uma nação que guarda o choro. Uma nação que se liberta a cada quatro anos. Patriotismo de Copa de ânus é pênis. No fundo, vem a calhar. Vamos, Brasil, doravante sempre e sempre!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Se foi o tempo

Se tu corres como tempo, é porque tu és o tempo
Se, porquanto, passas como tempo, que passatempo me sugeres?

Se tu passas e se tu feres, é que a morte anda contigo
Se tu és um inimigo, porque se juntam a ti?
Se meu tempo tem fim aqui, então não levo nada do que passa

Se passa, passou tu, carregando, ainda cru
Se cru estava, cru ficou, se não depois reencontrou

Se reencontrou num tempo a mais, relembrando o tempo atrás
Se foi, pois, num tempo atrás, é algo vago e não tem mais
Se, então, pode vir a ter, é porque soube me entretreter

Entretenha-me com o tempo, me ensinando um passatempo

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Futuro.


As Luzes jã estão acesas.
Os monstros já estão soltos.
Os filmes já estão rodando.
O sangue já está escorrendo.
A carne já está sangrando.

As meninas já estão burras.
Os homens já nem existem mais.
E no pescoço a jugular pulsa,
perfurada por caninos gêmeos.

Soneto Ibérico.

Abrigado por cogumelos,hei contar,
a história de um menino,sentado a esperar,
com sede de ternura e amor a transbordar,
espera somente a criatura aportar.

Aparece tal figura,e por muito se entreteem,
O menino,tão carente,padece a tal vintém.
Olhar por olhar terno,
conheceram-se muito bem.

"Aviação"- diz a menina,com um brilho no olhar,
o menino,extasiado,
num sorriso se põe a chorar.

"Encontrei!"- ele diz.
Minha pepita de ternura,
E se apaixona o mancebo,pela brilhante fulgura.

domingo, 30 de maio de 2010

Mal invisível

Como uma temperatura digna da morada da besta pode se tornar tão frio quanto os nevados picos das mais altas montanhas? Escudos cristalinos, dobramentos modernos, independentemente do escolhido, torna-se meu habitat, ao tempo em que divido-me entre dentro e fora de meu corpo: a sensação interna não condiz com a externa. Tal qual estivesse eu afetado por algo um tanto etílico, enxergo o mundo dobrado. De uma casa, vêem-se duas. De um pequeno inseto, vêem-se dois. Tudo ocorre graças a um corpo estranho que repousa em meu corpo, sem ter noção dos males que me causa. Posso sentir minha tez escaldando, mesmo que sinta o frio. Posso sentir minha cabeça sendo massacrada, embora esbanje calma aparência. Posso sentir a fraqueza de meus membros, enquanto há um horrendo desejo de me mover. Bom... olá, gripe! -umtylenol,porfavor!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Você por aqui?

Já é o décimo corpo, exalando o odor do ofício matinal, que faz vento em minha face desde que deixei o recinto não citado - e não será. Ao menos, não nas frases que tu há de ler ainda. Não apresento motivos para tal, mas aprecio a inútil teimosia - em direção ao destino próximo. Uma mera distração levou-me a caminhos equivocados. Corcoviei, na esperança de alguma ave guiar-me para algum local onde pudessem ver minha cara faminta de ondas eletromagnéticas onde se via uma cabeça que falava 'não', mas foi em vão. Antes que iniciasse meu pranto, dei por mim numa esquina já vista em vidas passadas, o que aumentava, de fato, minhas esperanças. Mas vidas passadas não têm certeza do que falam. Nada melhor a se fazer, senão telefonar à progenitora e dizer: Mãe! Tô perdido! Vem me buscar.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Prazer

Prazer,
Que achas de mim?
Sabes que eu,...
Ser amorfo & indígena,
represento cá alguma parte,
Mãe-natureza evocando em mim,
a serpente humana,e assim,
torno-me a ti aberração

-

Ou talvez o amor,
lânguido e nobre?
E tu a morrer de pavor,
de afago:Beijo ou palavra.

-

Pois digo a ti,que sofres:
Coloca pra fora esses bofes!
Ama-te a ti mesmo antes do alheio,
Que com esse reciprocar de ambos,
Todos hão de gozar a desenfreio.


quarta-feira, 28 de abril de 2010

Fonte de nada futuro

Como algo tão monótono, dotado apenas de certos caracteres variados, fixa suas teorias somente nas mentes mais abençoadas? Minha mente errática, construída para finalidades meramente humanas, com algarismos primitivos, não responde aos urros da tiragem negra na branca folha, onde se faz presente tal complicação. Um pedaço rabiscado de papel torna-se motivo para autoagressões psicológicas e morais -talvez imorais- na esperança de tornar o numeral, indicado de tinta rubi, no canto superior de tal folha, algo meramente razoável. Mas não se faz possível tal ato, pois, por mais que o expliquem e exemplifiquem e demonstrem, frente, rente, colado ao meu rosto, não decifro qualquer mensagem. Quiçá, um dia, meia-dúzia de acertos venham à tona. Enquanto espero, suicido-me, estudando matemática.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pasmaceira noturna.

Hoje sonhei que via,não sei descrever ao certo, sei dizer que via.
A utopia dos desejos,devaneios escorridos feito bafo embassando vidro em noite fria.
Via o vapor,garrafas vazias cheirando a levedo...Ócio.
Acordo de sopetão,levantando rápido,indo de contra os ensinamentos ortopédicos(deve-se virar o tronco primeiro e depois então o resto do corpo,para que não ocorram avarias na sua formação estrutural...)...Balela!Ouvia barulhos!
Ao vasculhar meu covil, deparo-me cá com uma imagem primária,visível até mesmo no breu a que me faço presente:
Ela era ela,branca, usava curto adereço em listras azuis e brancas,torso vermelho a balançar em seu sublime saltitar.Olhou-me com seus olhos pequeninos e castanhos...Música!Pareciam pedir-me!Dei-lhes Ciganos e violas,e vi rebolarem ínfimos os planetas de modo tão infuso, tão encantador e marvilhoso que mesmo já tendo me feito refém de damas por demais insígnes em mi vida,nunca me passou pelas retinas nada como aquela visão que veio a comparecer ao meu ilhéu imundo de desenhos amarelados e flautas.
De súbito sumiu,deixando em seu lugar bilhete em folhetim esverdeado e um cheiro por minhas narinas nunca sentido em tão simples fragrâncias
Moça,que tuas músicas tocadas a pés e mãos nunca serão pardieiros em minha mente.
E eu,a teu pescoço liso anseio,com mil pontas de dedo e palmas das mãos.

Deixe-os -ounão

Tua tara, traduzida em movimentos contínuos e ligeiros, frente somente ao luar, que cisma em tentar, em vão, ser mais belo que tu, e ao arvoredo de cromática singular, habitado por criaturas dotadas de feições de pequeno ser, mostram-me que tua afeição é única, posto que dedos, em sincronia, tocam-me, e percebo quão deleitoso pode ser um enrijecer. Falo com tal prazer, porém esbravejo carinhosamente quando mo faz, talvez por ser maneira doce de retribuir grosseiramente, talvez por tremeliques provocados. Mas, por ora, deixe meus mamilos repousarem serenos.

domingo, 18 de abril de 2010

Diálogos interespécies

Não, pequena faceira - disse-lhe - saia daqui! Vá procurar outros que te queiram. Rio-me, pois sei que não haverá, em qualquer cadeira de bar, um só corpo que deseje estar ao seu lado!
Não esconda-te dos raios luminosos que encontram tua vista minúscula. Não foste tu o ser que tocou ligeiro em meu alimento, e ali deixou teu rastro? Volte e enfrente-me, como se fosse um alguém provido de força bruta, como eu. Avante! Chinelas nas mãos! Um contra um, à beira da mesa.
Venci a tu, desta vez; sei que teus condescendentes virão repetir teus atos, bulindo minha pessoa. Mas farei o mesmo com cada membro que ousar repousar em meus aposentos humanos, outra vez. Morra... barata malandra.

Medo pra?

Dou-lhe a mão,
Dou-lhe o sol,
Dou-lhe beijos sutis...

E tu,dá-me negros caracóis.

Dou-lhe a palavra.
Dou-lhe os festins.
Dou-lhe o corpo.
Dou-lhe a mim...

E tu,dá-me o medo.

O dia do "eu te amo",
ele há de chegar,
espero ansioso,
pra o danado não tardar.

Hoje lanço a muitos,
pois há muitos que merecem,
embora não o recebam bem,
embora sempre o desprezem.