tag:blogger.com,1999:blog-43346299958388611542024-02-07T03:36:41.448-03:00ZacariawayLuan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.comBlogger66125tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-36175548735312392062013-03-21T00:18:00.001-03:002013-03-21T00:20:45.065-03:00Mancha no tempo<br />
<div style="text-align: justify;">
Virou para o lado e deu de cara com Machado de Assis. Do outro lado, estava Carolina Augusta. Quando caiu em si, percebeu que era, então, o filho que não havia sido.</div>
<div style="text-align: justify;">
Era triste por não ser; via-se invisível - mas, na verdade, era bem visível: era uma mancha na História. Fugiu desesperado e foi - sem ninguém pedir - ser gauche na vida. De súbito, parou num teatro inglês. Sentava ao lado de Elisabeth I. Era o fruto do ventre real que nunca amadurecera! Mais uma vez, era um fardo no tempo. Ao menos desfrutava Shakespeare legítimo. Belíssimo! Nauseabundo! Sentiu-se de novo culpado. Sua figura principesca representava a paz entre Montecchio e Capuletos. Nenhum jovem morrera aquela noite.</div>
<div style="text-align: justify;">
Correu, vagou no vago, chorou. Debaixo da ponte abobadada, sentiu o tremor do chão. Avisou Mestre Baldini, que fugiu a tempo. AAAH! Salvei o perfumista de Paris! Num ímpeto de raiva, liberando os demônios que o choro não foi capaz de expelir por si só, com uma estaca rija de madeira, golpeou um homem na cabeça. Era Hitler. Foi fatal. Imediatamente, sentiu seu crânio perfurado pelo projétil que Geobbels não tardou a lançar mão. Com uma bala a menos na História, John Lennon estava vivo.</div>
Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-38213711820608432992013-02-06T01:11:00.002-02:002013-02-06T01:11:34.147-02:00Fardo<div style="text-align: justify;">
Minha coluna dói. Como um arranha-céu desmoronando, me distorço. Os ossos crescem, os ossos encolhem, quebram, despedaçam. Poros se abrem, cálcio se vai. Meu fardo de ser eu me entorta a cara.</div>
<div style="text-align: justify;">
O passado se estende atrás de mim, como um tapete vermelho - vermelho cada vez mais vermelho, cada vez mais sangue. O passado está se movendo, devorando-me, tornando o futuro mais distante.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não há graça em andar para frente sendo puxado pelo redemoinho. Prefiro cair. Deixa pra lá. Parar de parar de chorar, começar a começar a aceitar: tudo passou; eu é que não passo.</div>
Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-19270684786945475772012-09-27T21:45:00.002-03:002012-09-28T12:43:00.992-03:00Centro-Oeste mestiço<div style="text-align: justify;">
Morria de medo o tal José de Santo Cristo. Ele viu seu primo partindo, o corpo esguio sumindo no meio do verde da fazenda, se embolando com o sol e com o horizonte. Preferiu o marasmo, preferiu o <i>fugere urbem</i>, mesmo que nunca tivesse pisado num asfalto. Tinha sua terrinha, tinha sua vaquinha malhada, e aquilo lhe bastava. </div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjg7rfQWRVGhkbtmAHZ5fwO7lrPeasA02lNOWYZtpNL9_OO9FDVplIcmojQbHQE86kiwmIerXxqernNoelcZRQ_RNlMy73k_OCSJYxDT6aRYcwr88ojxi2MBP6h92l4P97uMI-xp6dwhFs/s1600/caipira.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjg7rfQWRVGhkbtmAHZ5fwO7lrPeasA02lNOWYZtpNL9_OO9FDVplIcmojQbHQE86kiwmIerXxqernNoelcZRQ_RNlMy73k_OCSJYxDT6aRYcwr88ojxi2MBP6h92l4P97uMI-xp6dwhFs/s320/caipira.jpg" width="225" /></a>Íntegro, nem quando a tuberculose lhe assolou deixou de ir às missas. Foram-lhe tiradas a inocência e a pureza divina somente na lua-de-mel. O próprio pároco lhe pedia conselhos, via-o como exemplo. Da Vinci desenhou somente o corpo do homem perfeito; porém, se fosse possível transpor caráter para o papel, José posaria sem delongas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ouviu dizer que seu primo se envolvera com atividades que não condiziam com o tipo de criação que haviam tido no campo. Casto, correto, nunca botara fé no primo - o delinquente, degenerado da família Santo Cristo. Seu travesseiro era testemunha do quanto pediu a Deus que iluminasse o familiar, que na capital arriscava a vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Viveu como se fosse viver pra sempre, nunca com pressa, sempre com aquele o enrugado sorriso que iluminava as ventas. Viu filho nascer, viu filho morrer, viu-se morrendo, também. Padeceu de velhice. Desencarnou e não ganhou festa na fazenda, nem bandeirinhas, povo a aplaudir, sorveteiro, muito menos câmeras de TV. Morreu como viveu: sem aventuras. Não fez mais do que plantar alface. José de Santo Cristo não virou música, José de Santo Cristo virou adubo.</div>
Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-13544889614139741122012-09-19T21:28:00.000-03:002012-09-19T21:28:40.877-03:00Títulos também não são necessários<div style="text-align: justify;">
Danem-se o mundo gramatical, o dicionário, as orações! Nada é realmente necessário para a compreensão nesse antro de códigos. O olho no olho, o corpo no corpo, o pensamento e a telepatia: isso, de fato, faz o globo girar, não o jornal. Ouso ser melhor que Marinetti!</div>
<div style="text-align: justify;">
Podemos começar, então, a excluir o que trava, o que impede: o infeliz ponto final o ponto final é a coisa mais detestável possível! Pior que ele, talvez, somente a exclamação argh, eu tenho que sinalizar minha empolgação? e a dúvida também, meu Deus e que porcaria de maiúsculas deixem-me escrever brasil, atântico, zé das couves ah, chega de vírgulas capachas do ponto final morram os acentos nao preciso de silaba tonica se eu nao tiver que codificar chegadeespaçosvamosacabarcomasletr</div>
Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-4380849482589490272012-06-28T23:36:00.000-03:002012-06-28T23:36:01.442-03:00MusicismoDa música sai todo o som<br />
dos acordes, da clave, do tom<br />
da avenida, da vida, então.<br />
<br />
Na música se acha a chave<br />
da escala, da pausa, da clave<br />
do sentir o sentir mais suave.<br />
<br />
Vem num canto gregoriano<br />
com voz, violino, piano<br />
Já sabendo até que a última rima<br />
canta um nome cotidiano.Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-73956073307041650022012-06-21T23:32:00.002-03:002012-06-21T23:33:53.676-03:00Manifesto Zacaria<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Queremos ser Zacaria. Queremos ter Zacaria. Queremos Zacariar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
Vamos nos encher de anglicismos para afirmar nosso Zacariaway to Heaven, pois nosso modo de vida tem que ser Zacaria, e nosso Zacaria tem que levar ao céu. Em inglês, sim, porque vamos de Apollo 11 - não importa se verdadeiramente ou não - chegar ao objetivo-mor, dando um grande passo para a humanidade. A humanidade precisa de Zacaria, a humanidade precisa de prosa, verso, acorde e coreografia, todos dançando, cantando e recitando a ideia.</div>
<div style="text-align: justify;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
Ser Zacaria é observar uma andorinha num abutre e uma suculenta maçã numa mamona.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ser Zacaria é abraçar o mendigo e beijar o leproso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ser Zacaria é correr pela Arcádia, nu, e se cobrir de palmeiras e dentes-de-leão.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ser Zacaria é jogar capoeira com um japonês e comer acarajé de hashi.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ser Zacaria é abrir a mente para o mundo e destroçar caminhos traçados.</div>
<div style="text-align: justify;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
All we are saying is give Zacaria a chance.</div>
<div style="text-align: justify;">
Zacaria, Zacaria, über niemand in der Welt.</div>
<div style="text-align: justify;">
Allons enfants du monde, le jour de Zacaria est arrivé.</div>
<div style="text-align: justify;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
Zacaria é fruta colhida do pé</div>
<div style="text-align: justify;">
Zacaria é amor da mãe para o filho</div>
<div style="text-align: justify;">
Zacaria é razão untada em fé</div>
<div style="text-align: justify;">
Zacaria é abraço cantando estribilho</div>
<div style="text-align: justify;">
Zacaria é rico lembrar que é Zé</div>
<div style="text-align: justify;">
Zacaria é trem que não sai do trilho.</div>
<div style="text-align: justify;">
Zacaria é ir até que acabe o brilho, que suba a maré, que aperte o gatilho, o mundo acabar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Queremos ser Zacaria. Queremos ter Zacaria. Queremos Zacariar.</div>Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-89734410849632751632012-04-12T21:44:00.000-03:002012-06-15T11:27:56.793-03:00Se as chinelasSe suas chinelas falassem...<br />
Ah, que bobagem!<br />
Que mais contariam<br />
Senão que sorriam<br />
Quando tu as calçava?<br />
<br />
Se suas chinelas andassem...<br />
Ah, que bobagem!<br />
Aonde mais iriam<br />
Se nem mesmo saíam<br />
Da sua morada?<br />
<br />
Se suas chinelas amassem...<br />
Ah, que bobagem!<br />
Pra quê chorariam<br />
Às vezes morreriam<br />
De boca calada?Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-10376596211867205962012-04-03T18:23:00.001-03:002012-06-15T13:09:38.506-03:00Devaneios de um cubano cubista<span style="color: red;">Vi</span> <span style="color: blue;">Vi uns caras em trapos sentados no chão</span><br />
<div>
<span style="color: red;">umas</span> <span style="color: blue;">pedindo clemência e uns trocados pro</span></div>
<div>
<span style="color: red;">e outras </span> <span style="color: white;"> pão. E é pão ruim que o diabo veio</span></div>
<div>
<span style="color: red;">coisas quando</span> <span style="color: white;"> não mais de vermelho só pra</span></div>
<div>
<span style="color: red;">fui da</span><span style="color: white;">r u</span><span style="color: red;">mas voinetas</span> <span style="color: blue;">amassar. Vi gente de pé</span></div>
<div>
<span style="color: red;">co</span><span style="color: white;">m toda a </span><span style="color: red;">família</span> <span style="color: blue;">terno e gravata bufando</span></div>
<div>
<span style="color: red;">lá p</span><span style="color: white;">el</span><span style="color: red;">os </span><span style="color: white;">E</span><span style="color: red;">UA -</span> <span style="color: white;">correndo gritando achando:</span></div>
<div>
<span style="color: red;">terra doida</span> <span style="color: white;">acaba o mundo. Fidel nos acuda </span></div>
<div>
<span style="color: red;">que lá</span> <span style="color: blue;">Que correria meu Che para que isso</span></div>
<div>
<span style="color: red;">é</span> <span style="color: blue;">tudo? Seria absurdo ser desses em Cuba</span></div>Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-23044267429004830702012-03-19T17:57:00.003-03:002012-06-15T11:30:02.520-03:00Bocha<div style="text-align: justify;">
Era 15 de julho de 1975. A Alemanha estava em festa: final da Copa do Mundo de Bocha! Alemanha Ocidental de um lado, Alemanha Oriental do outro. Os comunas gritavam vitória antes do jogo, agradecendo a Lênin por abençoar seus jogadores bolcheviques. Os capitas, do outro lado, tomavam Coca-Cola e gritavam 'já ganhou' (<span class="short_text" id="result_box" lang="de"><span class="hps"><i>gewonnen haben</i>!). De fato, a festa estava linda. De Schleswig a Baden-Baden, cornetas, apitos e bandeiras espalhavam-se pelas ruas. Não fosse o muro, uma Guerra Civil tomaria Berlim.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="short_text" id="result_box" lang="de"><span class="hps">O amor à pátria ideológica tomava por completo os germânicos, que agora não mais queriam saber de seu espaço vital, mas, sim, de alçar o espaço na história dos torneios de bocha.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="short_text" lang="de"><span class="hps">A partida, disputada na Suíça - ai, Suíça, será que você vai ser sempre neutra? - começou às 16h, horário de Berlim Ocidental, e às 16h, horário de Berlim Oriental. Os vermelhos começaram com a bola. Alçada em direção ao alvo, o técnico soviético contava as revoluções da pelota. Vendo a boa pontuação dos rivais, os direitistas olhavam com inveja. Porém, logo deram o troco, alcançando ótima pontuação e ainda dando uns passinhos de vantagem. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="short_text" lang="de"><span class="hps">O jogo foi equilibrado até o final. Era ponto lá, ponto cá. Valha-me, São Trotsky! Acuda-me, São McCarthy! Num clima de Crise dos Mísseis, o mundo esperava por algo bombástico. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="short_text" lang="de"><span class="hps">Na última jogada, os Ocidentais conseguiram o empate. Pelas leis do bocha de 1975, a partida seria disputada pelo cara-ou-coroa. Ih! Aí começou a confusão! Os esquerdistas não aceitaram sucumbir à logica capitalista de basear suas vitórias, ações e decisões a partir de uma moeda. Os direitistas, por sua vez, argumentavam que só jogariam se fosse uma moeda de <i>cent</i> de dólar. Assim, a selvageria generalizou-se: era como a luta de Rocky Balboa e Ivan Drago, mas com dez pessoas de cada lado representando cada um da dupla. Lá em Berlim, o muro não aguentou: os alemães derrubaram a barreira, e nenhum germânico passou aquele dia sem levar um pontapé que fosse. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="short_text" lang="de"><span class="hps">O resultado: quinze mil mortos e sessenta mil feridos. As duas equipes foram desclassificadas, e o título caiu nas mãos do Brasil. Tragicômico, não? E o governo Geisel ainda usou isso como propaganda política. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="short_text" lang="de"><span class="hps">Agora vê se pode! Aquela taça de bocha de 1975 foi uma hecatombe esquecida pela História. Aliás, esquecida por todos. Quando eu conto, ninguém acredita. Poxa, sou eu lá de inventar essa qualidade de lorota?</span></span></div>Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-22206770489921473032012-02-19T00:45:00.001-02:002012-06-15T11:28:23.243-03:00Píramo e Tisbe<div style="text-align: justify;">
Mais fácil a morte, angústia de quem vive, ser a solução para quem ama. Se quem amas jaz agarrado a eterna fonte de cordas e laços dos mais fortes e habilidosos marujos e suas mãos calejadas, há que unir um dia, sem mais rios, lagos, mares de dor, a um só lugar, a todo momento, a todo sorriso e vontade, um par. Que não haja, pois, outra que espante ou outro que lhos queira mal, somente um tenro e sonoro valsete que embale a eternidade subterrena e supravital, a três por quatro passadas e suspiros, respectivamente. Seja imponente o que deveras sempre o foi, porém subestimado por almas pretas e encarniçadas, tingidas da mais fajuta cal. Debalde foi a luta para hermeticamente deixar deslocado dois polos visivelmente atraídos, afinal, os amantes babilônios separados pela parede hora encontrar-se-ão sob a árvore de frutos brancos, que vermelhos serão depois, demostrando aos errantes o sempre estampado na tez, solenemente ignorado e jogado de lado. Daí, então, suplicarão moço e moça por compaixão do nazareno; todavia, rejeitará o Cristo: estaria, ali, o que ele pregou, mas perdeu-se nos encaracolados neurônios do animal sapiente.</div>Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-59174076615335085162011-12-11T11:58:00.001-02:002012-06-15T11:28:46.672-03:00Os dias em que a terra parou<br />
<div style="text-align: justify;">
Nas primeiras horas foi um baque. O que
fariam dali em diante? Como manteriam os negócios, o dia a dia? Poucos
ainda lembravam da arte de escrever. Afinal, a última vez que escreveram
fora no C.A. Os que não se esqueceram se viravam como podia, e o faziam
num ritmo aceleradíssimo, devagar, quase parando, porque perderam o
jeito. Era papel por todo o lado, e os chefes já haviam perdido todos os
cabelos. O único conforto desses patrões era o café, que tomavam em PA,
enquanto apodreciam seus dentes em PG. Naquele dia, todo mundo saiu mais cedo.
O caos reinou nas ruas. O stress do trânsito, sem o rádio funcionando -
porque esqueceram como se mexia em aparelhos analógicos - nem GPS
obrigava alguns carros a subirem na calçada, darem de frente nos muros e
passarem por cima de alguns pedestres. Os que conseguiam chegar em casa
antes da madrugada viram os filhos chorando e as mães desesperadas. </div>
<div style="text-align: justify;">
No
segundo dia, os supermercados, que não abriram, foram alvos de saques.
Enlatados, processados e congelados. Nada sobrou na prateleira, a não
ser sangue. E sangue também era visto na porta. Quem chegava tarde se
virava como podia: dava tiro, facada, punhalada. Depois foi a vez dos
restaurantes. Todos foram atacados, também. Assim como os mercados, os
restaurantes não tinham aberto, pois nenhum chef se lembrava das
receitas. Nem as donas de casa. Nem a Ana Maria Braga (que nem foi
trabalhar). Nenhuma criança foi à escola, pois não sabiam de mais nada.
Seus livros pararam de funcionar - sim, isso faz sentido. Em casa, nada
os distraía. Nunca aprenderam a jogar peão, nem bola de gude, e o
condomínio não tinha quadra, por ser investimento inútil. </div>
<div style="text-align: justify;">
No
terceiro dia, todos acordaram mais peludos. Os homens batiam com pau na
cabeça das mulheres, e perpetuavam a espécie. As cinco ou seis árvores
qe ainda restavam em cada bairro estavam repletas de "neoneandertais",
procurando frutos. De volta à era da pedra lascada. Alguns ainda
lembravam como se andava à cavalo, e eram tidos como deuses de quatro
patas e duas cabeças; matavam quem queriam, para poderem comer.
Desdescobriram a toda e o jeito de se fazer fogo. Passavam a morar em
pseudocavernas: abrigos fechados, longe de grandes predadores,
abundantes em água. Há menos de uma semana, esses abrigos eram
conhecidos como "esgoto". As pestes se alastravam, as pessoas morriam o
povo migrava. Árabes e judeus, espanhóis e bascos, chineses e tibetanos
não tinham mais diferenças etnico-culturais. Agora se matavam para
sobreviver. </div>
<div style="text-align: justify;">
No quarto dia, um
pioneiro fez uma tentativa que deu certo. Espalhou a notícia, que logo
correu o planeta: depois de três dias de fim do mundo, a <i>internet </i>havia voltado a funcionar.
Os pelos foram caindo, as roupas foram sendo costuradas, os homens foram
dando as mãos e cantando We Are the World, num coro de sete bilhões de
pessoas, com o fundo da música tocando no <i>YouTube</i>. As empregadas cozinhavam, as crianças estudavam, os homens da bolsa voltavam a gritar e cheirar. </div>
<div style="text-align: justify;">
Não
se sabe ao certo quem foi que consertou a rede mundial de computadores.
Como conseguiram ficar sãos, e manter a cabeça inteligente? Acredito
que tenham sido monges budistas, mas estou meio sozinho nessa. Especulam
que tenha sido a NASA, a ROSKOSMOS ou a PMERJ, mas a última é mais
duvidosa. Porém, tanto faz. Na realidade, em menos de uma semana ninguém mais
lembravam do ocorrido, pois nada foi filmado. Assim, os dias em que a
terra parou viraram só mais três dias a menos no mês de fevereiro.</div>Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-48567564663861492762011-12-02T21:52:00.001-02:002012-06-15T11:29:00.665-03:00Redenção<div style="text-align: justify;">
Tivemos a redenção. Quando achávamos que tudo se perdia, nos achamos. Chegamos a pensar decretar a moratória; porém, nossas forças de direita não deixaram. Sorte nossa que, quando acordamos, um anjo torto veio e disse: 'Vai lá, vai sofrer na vida. Mas sofre sorrindo, tá?'. Eu disse 'tá'. E você também: 'tá'. Agora só sorrio. Agora só rio.</div>
<div style="text-align: justify;">
Que importa quem grita lá fora? Velha, criança, moça, o que for! Abdicamos de tudo para depois fingirmos nosso golpe da maioridade. Cobertos de coberta, Chopin nos acobertou. Nosso recital foi cheio de dedos , tocatas, fugas... um valsa. Uma grande valsa brilhante!</div>
<div style="text-align: justify;">
Sorte! Não cometemos aquele grande erro! Será que seria erro? Por via das dúvidas, você me abraçou. Foi meu invólucro. Cada morro, cada vale, cada planície segura do seu território foi invadido pelo meu. E a recíproca confirmou-se. Eu gangorrei, você carrosselou. </div>
<div style="text-align: justify;">
Então você veio, deixou a luminária de lado e teve sua luz própria. Ou melhor: ambos tivemos luz própria. Deixamos uma supernova explodir, quase um big bang! Talvez daí tenha surgido a Via Láctea. Se não foi ali, foi num episódio parecido. </div>
<div style="text-align: justify;">
Você sorriu, eu sorri. Beijamo-nos. Cristo redentou por nós. Ou alguém mais embaixo.</div>Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-78674321224861222612011-11-30T03:07:00.003-02:002012-06-15T11:29:16.642-03:00Úmido FluxoHoje encabeçarei a discução sobre rios,<br />
ei de numerar cada desvio,<br />
afluente, nascente e pavio,<br />
dos lampiões que o exploraram.<br />
<br />
Os que nele riram, gozaram serenos,<br />
e em suas pedras deitaram amenos, <br />
<div>
sem notar anúncio ou ruído terreno,<br />
a anunciar o trovão.<br />
<br />
Se o ladrar do cão assustasse,<br />
não haveria um sequer que o sujasse,<br />
nem com metal nem com refrão.<br />
<br />
Assim fica explícito, então,<br />
que o dito rio nada mais é, senão,<br />
a minha, a tua e a nossa vida em transição.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div>
<br /></div>
</div>Luquezhttp://www.blogger.com/profile/01429031619653373444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-66596055921600642152011-11-27T14:09:00.001-02:002012-06-15T11:29:28.434-03:00Tchau! quê?Pegou ela foi o primeiro trem<br />
subiu e foi nele até Luxemburgo<br />
gritou seu ex-dono, já meio surdo:<br />
Ah! serve, então, sua ingrata, a outrém!<br />
<br />
Velho homem, aquele, moribundo<br />
Que nem fazia da pobre refém<br />
Judiou, sim, é verdade, porém<br />
Nada de fato intenso, nem profundo<br />
<br />
Jovem, por isso metia rebelde<br />
Gritou que nunca mais um dia fosse<br />
Ser arrancada por outro que excede<br />
<br />
Da vã loucura e do tal agridoce<br />
Assim, Zé Bobeira, é que se escafede<br />
A orelha esquerda do pintor Van GoghLuan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-6193493013068915522011-11-12T23:34:00.001-02:002012-06-15T11:29:45.004-03:00A vida não necessariamente é literária<div style="text-align: justify;">
A vida é literária. Cada um tem o seu jeito de viver, tais quais os livros têm suas diretrizes. Há quem faça da vida um parágrafo, mas há outros que acabam por publicar uma novela. Alguns são best-sellers, que aparecem em capas de revistas. Outros, encontram-se somente nos melhores sebos do Centro. Cada qual com seu cada quem, a vida passa do jeito que se escreve.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há os barrocos, que num dilema entre céu e inferno, vivem o exagero. Não sabendo onde parar, soam incerteza e choram a dúvida. Vociferam anjinhos de fogo, sem saber para que lado ir. Extremamente rebuscados, cheiram a santos-do-pau-oco. Ora tranquilos, ora pecadores-mor, às vezes alguns não sabem onde parar, e chegam a ter aparência de rococó.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há os árcades, que 'carpediam' bem longe do centro urbano, com a maior simplicidade. O pastoreio é, na verdade, é uma metáfora no século vinte e um para o isolamento individual em qualquer cantinho agradável, onde o neoclássico possa pensar sua musa. Sem muito rebuscamento, apenas cantam as graças às Marílias, com perigoso toque de idealização. Ah, Marílias nunca são perfeitas. Mas vai lá.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há os românticos, que, agora sim, alarmantemente idealizam suas virgens e, num piscar de olhos, deparam-se deitados no chão da taberna. Nação, mulher ou sociedade, esses sempre se decepcionam. Ninguém é perfeito, muito menos fora do papel. Peris não se encontram nem na Amazônia, pra onde devem ter fugido quando derrumaram a Mata Atlântica. Desistam, amigos, Álvares de Azevedo morreu aos vinte anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há os realistas, que veem as coisas de olho mais aberto. Atentos às coisas como realmente são, desconstroem qualquer tipo de endeusamento. Olham os olhos de cigana de Capitu e realmente a veem como a culpada. As coisas que parecem ser reais, nem sempre o são. Assim, pedem um narrador oniciente, para que se tenha certeza do ocorrido. Mas não adianta ouvir, se os humanos reais não conhecem nem a si mesmos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há os parnasianos, que se preocupam mais com a forma do que com o conteúdo. Reparam mais no trabalho do ourives estampado pelo corpo do que nos conflitos desse profissional de fé. Pro inferno esses daí. Sinto sono de seus sonetos. A alienação ao que realmente se passa por fora da métrica é deplorável.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há os simbolistas, que de introspectivos tudo têm. Buscando o sonho, correm à musicalidade, e gritam, chegam à beira da loucura. Seu branco simboliza a sua indefinição. Não sabem se sonham ou se vivem, na verdade. Nessa incerteza e névoa, esses indivíduos trocam sentidos e repetem sons, numa esquizofrenia vital que se torna incômoda.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há os modernistas, que zombam de tudo, que criticam tudo, que revolucionam tudo. Depois de passarem os dois patinhos na lagoa, mostraram que a vida não precisa ser certinha, nem bonita, nem complicada. Pode ser, se quiser, mas cada um tem um jeito. Pra quê se arrumar de mais se todo mundo acaba pisando na poça, uma vez ou outra? Mas às vezes passa dos limites, e mostra-se simplório de mais. E agora, José? O que faço? Vou pra Pasárgada?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O fato é que minha vida não é de academia. Vivencio um pouco de cada. Tenho cara de livro didático? Tenho é cara de homenzinho. Vou levando até que a vida me leve, sendo a geração que eu bem entender. Entender, não, que não me entendo, mas escrevo o que sai, vivo o que dá. Desculpem-me se não estou Top10, mas nem todo mundo fica no auge pra sempre. Às vezes a caneta falha, mas quase sempre está com carga. Por favor, quando acabar, me ajude a trocar, pois a vida não pode parar por um pequeno infortúnio. Quando dá uma pausa, um marcador de página deve ser usado, para que não se perca o fio da meada na leitura dessa Enciclopédia de 73,1 anos.</div>Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-83137039286999679532011-10-28T23:37:00.000-02:002012-06-15T13:11:21.592-03:00GaiolaPassarinhei | Cotoviei | Curiosei<br />
À passarinho | Cotovelei | Curió<br />
Passeio completo | Cotoveleira | Curioso<br />
Passado | Corto a veleira | Curado<br />
<br />
<br />
Se é livre a palavra<br />
Por que não o passarinho?<br />
Passará longe<br />
Longe do centro urbanoLuan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-36767176429233542502011-09-29T16:07:00.001-03:002012-06-15T11:31:26.853-03:00*****<div style="text-align: justify;">
Saí apressado de casa<span style="color: #b45f06;">*</span>. Apanhei chaves, carteira, celular, cinto e sapato, e fui colocando o que tinha que colocar nos bolsos e vestindo o que tinha de vestir pelo caminho<span style="color: #b45f06;">**</span>. Dei um bom dia para o porteiro do prédio e rumei ao ponto de ônibus<span style="color: #b45f06;">***</span>. Pulei e subi no veículo que, pela hora, encontrava-se abarrotado<span style="color: #b45f06;">****</span>. Em pé, demorei mais de quarto de hora para chegar ao ponto final<span style="color: #b45f06;">*****</span>. Desci e, correndo, rumei à escola; passos largos, cheguei a tempo<span style="color: #b45f06;">******</span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06;">*</span> tinha perdido a hora, já que tinha ido dormir tão tarde no dia anterior. Eu não conseguira tirar da cabeça aquela cena da tarde. Aquilo me consumia de forma tão absoluta que meus sonhos se basearam no tal fato, e acordei pensando nele, e tomei banho vendo a imagem do meu lado, e meu pão tinha aquele gosto .</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06;">** </span>agradecia aos céus por ter uma casa para onde voltar ao final do dia; uma carteira gordinha com dinheiro, fotos de quem amava, sobrenomes na identidade e notas fiscais das mais diversas peraltices que fiz; o poder da comunicação com o mundo; calças que me caíam ao corpo esbelto por opção; e algo para calçar e proteger-me dos ancilóstomos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06;">*** </span>nunca dei um bom-dia tão bem dado quanto dei daquela vez. Aposto que ele também deve ter visto aquilo na TVzinha preta-e-branca de dentro da cabine. Parecia atordoado, também. Me deu um bom-dia hesitante, como que não acreditasse que eu, depois de tudo aquilo, ainda achasse que o dia fosse bom. Não achava, mas desejava. Corri em direção à parada de ônibus e vi que todos reproduziam as feições do porteiro - e a minha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06;">**** </span>naquele remelexo do coletivo, ninguém ficava sentado por muito tempo. A solidariedade era grande, e todos que chegavam tinham direito a sentar. Mas não era por ter crescido a bondade, e sim por culpa. Quem viu o absurdo da noite anterior sentiu-se, certamente, responsável, de alguma forma por aquilo. Eu era um deles. Minha cabeça girava tanto quanto a catraca.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06;">***** </span>o trânsito estava insuportável. A humanidade dos motoristas, que paravam a cada pedestre que ameaçava atravessar a avenida, entupia as vias de carros e mais carros. Ninguém avançava o sinal, ninguém ultrapassava ninguém, a preferência era sempre do outro... Tragicômico. Tudo por culpa daquilo. Ai, remorso coletivo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06;">****** </span>correndo, todos me observavam. Ainda tinha forças para correr, enquanto todos pareciam rastejar. Meu terceiro atraso no mês! Não! Não poderia ser suspenso e olhar de novo a cara da minha mãe frente à TV. Muito menos da empregada frente ao rádio. E meu irmãozinho, olhando a janela? Cantarolei uma música, para tirar tudo da mente, imaginei cenas românticas. Cheguei à escola. Chega. Logaritmos, tomem conta de mim. Por lá, todos riam, todos corriam pique, todos contavam piadas. Não chegou lá. Chegou, mas se foi rápido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
PS.: Até as 12:30, esqueci daquilo. Depois lembrei, mas ninguém estava tão mal. Nem mesmo eu. Esqueci. Pronto para a próxima. Sou nem paleontólogo, para viver de passado.</div>Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-37296555556999480762011-09-10T23:42:00.000-03:002012-06-15T11:31:58.278-03:00Understand?No <i>English </i>todo mundo se vira<br />
No <i>football </i>a galera grita <i>goal </i>quando batem o <i>corner </i>e a bola balança as redes.<br />
No <i>volleyball</i>, bradam '<i>match point!</i>', quando o <i>tie break</i> está no fim.<br />
No <i>Rock In Rio</i>, os <i>head bangers</i> pedem um<i> heavy metal</i> e fazem <i>mosh</i>.<br />
Em sua <i>home sweet home</i>, o <i>teenager</i> joga <i>playstation</i> e entra no <i>facebook</i>.<br />
No <i>shopping center</i>, a <i>gang</i> come um <i>Big Mac</i> e toma <i>milk-shake</i>.<br />
No <i>country club</i>, a <i>high society</i> joga <i>poker</i> no <i>derby</i> do <i>jockey</i>.<br />
O pessoal mais <i>cool </i>anda de <i>mountain bike </i>e faz <i>trial</i>, quando tem <i>cash</i>.<br />
<br />
Em inglês, todo mundo tem <i>know-how</i>! Quero ver o portugueiz!Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-34031284956782974522011-09-06T20:58:00.000-03:002012-06-15T11:32:09.481-03:00BaródiaVou-be ebora bra Basárgada<br />
Abosto que lá sou bei-vido<br />
Tobara gue tenha buitos rebédios<br />
Bra curar beu dariz eitupido.Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-75007507252392840662011-09-01T13:14:00.000-03:002012-06-15T11:32:23.028-03:00Conjunções<div style="text-align: justify;">
Mas. Sempre tem um Mas. Sempre tem um veneno para encher a metade do copo que estava cheio. Nuvem no céu, onda no mar, choro no rosto. Quisera eu abolir os Poréns da vida. Tanto quero que o tento. Contudo, à vezes aparece um Embora. Rogo desgraças por dentro, prego a paz por fora. Que faço eu se nasci metade? Tomás de Aquino me aponta o caminho da perfeição. No Entanto, mal sabe ele que Todavias podem, mesmo que inconscientemente, aparecer. Daí veem-se vários corpos caídos pela estrada. Apesar de alguns desesperos, facilmente gargalham. Onde encontro-me, parece já avançado, segundo meu sistema nervoso egocêntrico central. Conquanto, somente me é perceptível. </div>
<div style="text-align: justify;">
Ao Contrário de meu desejo, não posso abolir as Conjunções Adversativas e Concessivas. Valha-me, gramática da vida! Não deixe que me coloquem mais predicativos!</div>Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-22720529291904564422011-08-26T00:22:00.004-03:002012-06-15T11:32:40.814-03:00ZadicaAhh, bem que eu queria...
<br />
O espasmo, a sorte, a nostalgia,
<br />
rever a noite e o dia,
<br />
no enleio da moça judia.
<br />
<br />
Ahh, como eu almejo...
<br />
O sino, a noite, o desejo,
<br />
me ver jogado no beijo,
<br />
que vem à trazer-me alegria.
<br />
<br />
Na ausência, me coço quieto,
<br />
com os braços pendendo, me veto,
<br />
me encolho de corpo aberto,
<br />
e aguardo o fardo seleto.
<br />
<br />
É. Eu sou assim,
<br />
se outrora vivo carmim,
<br />
sou nublado domingo.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
E venho dormindo mal.
<br />
<br />
<div>
Mas continuo em busca do sal,
<br />
das roupas em forma no varal,
<br />
e do virgem cal,
<br />
que um dia me deste partindo.
<br />
<br />
É assim que hás de ver-me seguindo,
<br />
hora vibrante, sorrindo,
<br />
hora estreito e boçal.
<br />
<br />
<br />
<br />
<br /></div>
</div>Luquezhttp://www.blogger.com/profile/01429031619653373444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-59056734161070359252011-08-22T23:28:00.000-03:002012-06-15T11:33:18.303-03:00Muito obrigado!<div style="text-align: justify;">
Há exatos 492 dias, fincamos nos domínios Blogspot a bandeira do Zacariaway. A princípio despretensiosamente, a pessoa que vos fala (Luan) e o outro, o poeta dos cabelos ao vento, Luque, queríamos apenas um lugarejo para usar de depósito de nossos devaneios e surtos de inspiração lírica. Se ao início da caminhada pouco propagamos de nossos panfletos por aí, pouco a pouco o blog foi ficando famoso entre o círculo de malucos que andarilham conosco, pelo simples boca-a-boca, principalmente depois de textos, modéstia enterrada, magnificentíssimos, como 'Química (Volume único)', 'Lábios Gruta-Fruta', 'Visão da Divisão' e 'Luminária'. Como uma rajada potente, logo avistávamos links em outros blogs, nos indicando. Nas redes sociais, menções aos nossos textos. Comentários entre amigos, parentes e professores. Zacarias, magânime padroeiro do blog, sorri cada dia mais com o número crescente de peregrinos ao livro virtual.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sem mais delongas, venho somente no intuito de agradecer a marca de <b>2.000</b> passos de estrangeiros pela Zacariaway to Heaven, nesse período de 492 dias. Incomensuravelmente agradecidos aos amigos, aos leitores, aos seguidores, aos parceiros e, obviamente, ao Zacarias, por conduzir nossas saos céus, a partir da escadaria encimentada e, ao que se diga, divina, que ele, austero, vigia.</div>Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-74640097052945878712011-08-19T23:05:00.000-03:002012-06-15T11:33:57.716-03:00Chorei de um olho só<div style="text-align: justify;">
Chorei de um olho só. Até agora não sei se foi cisco. Pode ter sido também conjuntivite. Posso ter tido câncer de retina. Não importa bem a causa. O trato é que chorei de um olho só. Foi o esquerdo, que olhava a mureta. O direito, virado pra rua, continuava olhando, à paisana, como se o sol não doesse lá fundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
O que me embasbaca de ter chorado de um olho só é que não sei o porquê do outro não ter reagido. Outro olho, como foi?, como é? Reaja! Chore junto! Não são amigos de longa data? É assim que amigos fazem. Se bem que, por outro lado, tem um nariz empinado que sempre se mete no meio quando os olhos tentam enxergar a cor da íris do outro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez estivesse só o olho esquerdo chorando por estar no mundo das ideias. Não o ideário platônico, mas o agressivo mundo dos pensamentos seculovinteeunistas. Aquela reflexão que só a parede entende. Aquelas memórias vistas pela direita, mas agora pixadas no muro. Faz sentido então, afirmar que choro de um olho só porque o direito cansou-se de olhar, e o esquerdo não liberta-se de seus martelos na cabeça. Se é que olho tem cabeça. E aí está mais um dilema, que me faz chorar de um olho só.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não gosto de chorar de um olho só, porque o outro deveria também sofrer junto. Tão imponente e sofisticado, olhando o mundo a sua volta, não deveria ter sentado com as pupilas cruzadas. Em terra de cego, quem tem olho é rico, e rico nem resto de quentinha dá pra mendigo. Não podem ver ninguém dizendo que olho também tem, que logo arrancam e comem. Mas isso só se você considerar minhas vociferações verdades absolutas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Por essas e outras, choro de um olho só como já chorou Luís XIV. Agrada-me o árcade prazer de saber que não sou o único. Por favor, não avise a mim mesmo que não passam de falácias - sou único, sim, senhor. Ai, meu Deus! Pior que eu ouvi! Vou ter que agora chorar de novo de um olho só.</div>Luan Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/11473296595787051402noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-68560167146722554902011-08-18T20:49:00.006-03:002012-06-15T11:34:41.775-03:00Os Afazeres de Sr. Hermógenes<span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="background-color: white; line-height: 14px;"></span>Perguntaram ao Sr. Hermógenes o que ele andava fazendo.
<br />E ele respondia:
<br />
<br />Vou bem, sr.
<br />Cagando gomas e prestando contas, dr.
<br />Embrulhando seu presente e suas penas, amor.
<br />Provando de todos um pouco, sabor.
<br />Guardando aqui e acolá, rancor
<br />Sentindo as vezes uma pontada, uma dor.
<br />Olhando a bela flama e vendo, ardor.
<br />Colhendo ao invés da mágoa, flor.
<br />
<br />Transmutando o verso rijo em calor.<span class="Apple-style-span" style="background-color: white; line-height: 14px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"></span></span></span><span class="Apple-style-span" style="background-color: white;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 11px; line-height: 14px;"><span class="Apple-style-span">
</span></span>
<br />
</span></span><br />
<div>
<div>
</div>
</div>Luquezhttp://www.blogger.com/profile/01429031619653373444noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4334629995838861154.post-70511581180513293142011-08-16T21:14:00.003-03:002012-06-15T11:34:53.752-03:00RomanticaNessas horas,
<br />
essas que me pego vomitando palavras,<br />
<div>
querendo o ninho às favas,</div>
<div>
pensando errado e chupando balas,</div>
<div>
só então que percebo.
<br />
<br />
O quão ansioso me faço,</div>
<div>
como escrevo mal,</div>
<div>
e o quanto anseio o sal,</div>
<div>
da pele rosada.
<br />
<br />
Só a musica me sana,</div>
<div>
dessa dimensão plana,</div>
<div>
<br />
E quanto mais planejo,</div>
<div>
mais percebo o ensejo,</div>
<div>
de me ver enamorado.
<br />
<br />
E meu rosto então, corado,</div>
<div>
não consegue desviar-se, ancorado,</div>
<div>
da dona moça, jovem e viril.
<br />
<br />
Maquiada azul anil,</div>
<div>
me atormenta a cada olhar.</div>
<div>
<br />
Se eu não fosse de chorar,</div>
<div>
melhor entenderia,</div>
<div>
no meu caso é melhor deixar,</div>
<div>
vir à tona a euforia.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>Luquezhttp://www.blogger.com/profile/01429031619653373444noreply@blogger.com0