Talentosos, perfeitos, bonitos, cheirosos, charmosos e modestos:

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Zadica

Ahh, bem que eu queria...
O espasmo, a sorte, a nostalgia,
rever a noite e o dia,
no enleio da moça judia.

Ahh, como eu almejo...
O sino, a noite, o desejo,
me ver jogado no beijo,
que vem à trazer-me alegria.

Na ausência, me coço quieto,
com os braços pendendo, me veto,
me encolho de corpo aberto,
e aguardo o fardo seleto.

É. Eu sou assim,
se outrora vivo carmim,
sou nublado domingo.

E venho dormindo mal.

Mas continuo em busca do sal,
das roupas em forma no varal,
e do virgem cal,
que um dia me deste partindo.

É assim que hás de ver-me seguindo,
hora vibrante, sorrindo,
hora estreito e boçal.




segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Muito obrigado!

Há exatos 492 dias, fincamos nos domínios Blogspot a bandeira do Zacariaway. A princípio despretensiosamente, a pessoa que vos fala (Luan) e o outro, o poeta dos cabelos ao vento, Luque, queríamos apenas um lugarejo para usar de depósito de nossos devaneios e surtos de inspiração lírica. Se ao início da caminhada pouco propagamos de nossos panfletos por aí, pouco a pouco o blog foi ficando famoso entre o círculo de malucos que andarilham conosco, pelo simples boca-a-boca, principalmente depois de textos, modéstia enterrada, magnificentíssimos, como 'Química (Volume único)', 'Lábios Gruta-Fruta', 'Visão da Divisão' e 'Luminária'. Como uma rajada potente, logo avistávamos links em outros blogs, nos indicando. Nas redes sociais, menções aos nossos textos. Comentários entre amigos, parentes e professores. Zacarias, magânime padroeiro do blog, sorri cada dia mais com o número crescente de peregrinos ao livro virtual.
Sem mais delongas, venho somente no intuito de agradecer a marca de 2.000 passos de estrangeiros pela Zacariaway to Heaven, nesse período de 492 dias. Incomensuravelmente agradecidos aos amigos, aos leitores, aos seguidores, aos parceiros e, obviamente, ao Zacarias, por conduzir nossas saos céus, a partir da escadaria encimentada e, ao que se diga, divina, que ele, austero, vigia.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Chorei de um olho só

Chorei de um olho só. Até agora não sei se foi cisco. Pode ter sido também conjuntivite. Posso ter tido câncer de retina. Não importa bem a causa. O trato é que chorei de um olho só. Foi o esquerdo, que olhava a mureta. O direito, virado pra rua, continuava olhando, à paisana, como se o sol não doesse lá fundo.
O que me embasbaca de ter chorado de um olho só é que não sei o porquê do outro não ter reagido. Outro olho, como foi?, como é? Reaja! Chore junto! Não são amigos de longa data? É assim que amigos fazem. Se bem que, por outro lado, tem um nariz empinado que sempre se mete no meio quando os olhos tentam enxergar a cor da íris do outro.
Talvez estivesse só o olho esquerdo chorando por estar no mundo das ideias. Não o ideário platônico, mas o agressivo mundo dos pensamentos seculovinteeunistas. Aquela reflexão que só a parede entende. Aquelas memórias vistas pela direita, mas agora pixadas no muro. Faz sentido então, afirmar que choro de um olho só porque o direito cansou-se de olhar, e o esquerdo não liberta-se de seus martelos na cabeça. Se é que olho tem cabeça. E aí está mais um dilema, que me faz chorar de um olho só.
Não gosto de chorar de um olho só, porque o outro deveria também sofrer junto. Tão imponente e sofisticado, olhando o mundo a sua volta, não deveria ter sentado com as pupilas cruzadas. Em terra de cego, quem tem olho é rico, e rico nem resto de quentinha dá pra mendigo. Não podem ver ninguém dizendo que olho também tem, que logo arrancam e comem. Mas isso só se você considerar minhas vociferações verdades absolutas. 
Por essas e outras, choro de um olho só como já chorou Luís XIV. Agrada-me o árcade prazer de saber que não sou o único. Por favor, não avise a mim mesmo que não passam de falácias - sou único, sim, senhor. Ai, meu Deus! Pior que eu ouvi! Vou ter que agora chorar de novo de um olho só.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Os Afazeres de Sr. Hermógenes

Perguntaram ao Sr. Hermógenes o que ele andava fazendo.
E ele respondia:

Vou bem, sr.
Cagando gomas e prestando contas, dr.
Embrulhando seu presente e suas penas, amor.
Provando de todos um pouco, sabor.
Guardando aqui e acolá, rancor
Sentindo as vezes uma pontada, uma dor.
Olhando a bela flama e vendo, ardor.
Colhendo ao invés da mágoa, flor.

Transmutando o verso rijo em calor.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Romantica

Nessas horas,
essas que me pego vomitando palavras,
querendo o ninho às favas,
pensando errado e chupando balas,
só então que percebo.

O quão ansioso me faço,
como escrevo mal,
e o quanto anseio o sal,
da pele rosada.

Só a musica me sana,
dessa dimensão plana,

E quanto mais planejo,
mais percebo o ensejo,
de me ver enamorado.

E meu rosto então, corado,
não consegue desviar-se, ancorado,
da dona moça, jovem e viril.

Maquiada azul anil,
me atormenta a cada olhar.

Se eu não fosse de chorar,
melhor entenderia,
no meu caso é melhor deixar,
vir à tona a euforia.