Talentosos, perfeitos, bonitos, cheirosos, charmosos e modestos:

segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Estrada

Vida minha
vida nossa!
Tão cheia de conturbações.

Me abate de sopetão,
Qual o martelo com a noz.

Me vejo em uma estrada,
Completamente esburacada.
Mesmo tentando,
Não consigo pensar em nada.

Há uma hora atrás eu pensava,
Que eram os buracos na estrada,
Quando na verdade,
A roda da minha carroça é que se fazia empenada.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

'Cafunés'

Quando me faço cafunés eu acelero o tempo,
e me sinto ao enleio de afagos sutis,
revirando meus cabelos qual tapete denso,
relembro o cheiro da rosa e o gosto do anis.

Tudo o que sempre quis foi o ninho de amantes,
e fitar aquele rosto, semblante feliz,
esquecendo o agora, partindo para o antes,
quando as penas não se desgrudavam do pobre perdiz.

Socorro.

Se hoje faço uma preçe, é por desespero,
De reaver distribuídos sorrisos de outrora,
para que possa só doar os dentes que me restam,
e não sentir remorsos ao chegar minha hora.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Menino e a Menina - Parte I

Era uma vez um menino que, por um acaso, se chamava Menino. Menino era um típico adolescente: Sua cabeça era um círculo, e tronco, braços e pernas eram feitos de palito. Usava uma camisa e um short azuis. Ele morava num cubo branco, acolchoado, bem confortável... talvez 'aconchegante' seja o termo certo. Esse cubo tinha dimensões de 8 cachorros de largura e 14 gatos de comprimento. Dentro dele, tinha um livro, uma luz no teto, um Rinossoro e um CD do Led Zeppelin. Além de tudo isso, ali se encontrava uma pequena janela, no canto inferior esquerdo de uma das paredes, que media 2 hamsters quadrados. A janela não podia ser aberta, e nada se ouvia do outro lado.
Menino sempre quis olhar o que tinha do lado de fora, mas tinha medo de ver um mundo feio e ficar triste. Era assim que era descrito no livro: Um mundo com cheiro azedo e com enormes monstros que se mordiam entre si. Um dia, as paredes estavam mais brancas do que o normal, e Menino sentiu-se forte o suficiente para espiar o que se passava além do vidro. Olhou. Lá havia algo que ele não esperava: um outro quarto branco. Nesse quarto tinha uma menina. Por falta de opção, ele resolveu chamá-la de Menina. Menino passava dias olhando a Menina, e nem tomava conhecimento do riff de Stairway to Heaven.
Num dia em que as paredes estavam mais brancas do que o normal, a Menina também olhou pela janela, e viu Menino mirando sua face. Prontamente, a Menina levantou-se e tirou a roupa. O adolescente, no auge de sua puberdade, registrou aquele momento com todas as áreas do cérebro. A cada 2 dias, sentava-se num canto do cubo e revivia a cena. Nos dias que não o fazia, olhava na janela, na espera de que a Menina o visse de novo.
Num raciocínio lógico simples, Menino percebeu que poderia se libertar. Tacou o CD do Led Zeppelin na janela. Ora, se um zepelim de chumbo de músicas pesadas não quebrasse o vidro, o quê quebraria? Dito e feito. Quebrou. Menino encolheu-se até passar pelo buraco. Entrando no cubo da Menina, viu-se sozinho, com um bilhete no chão: 'No meu quarto tem duas janelas. Fugi com o vizinho do lado, o Garoto. Quebrei a janela com meu disco dos Rolling Stones. Boa sorte na vida, e não se esqueça de usar Rinossoro.'

O Menino e a Menina - Parte II

Resolveu o Menino se matar, e o fez.
Depois sua alma jogou o corpo no lixo.
Ele foi reciclado e virou a cadeira onde você está sentado.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Novo cálice

Vinde a mim as criancinhas, vinde a mim os carrapatos, vinde a mim os pombos, vinde a mim os ratos. Não me importo se te prometi arco-íris. Prepara-te para receber um reles chão de cimento. Pouco me assusta o que tu e teu irmão mais velho podem me fazer, pois embora o que eu tenha a oferecer não passe de esmola, há sangue nessa moeda.
Não me entristeço com isso, pois não ofereces perigo. De máximo, comparo-te a um besouro que, apesar da carapaça, não me provoca tremelique algum. Espanto-te com uma vara e deixo estar. Sou maior, sou melhor, tenho uma tiara de brilhantes. Não te considero nada. Senta e ouve o meu discurso imponente! Falo baixo, não grito, sussuro ao seu ouvido.
Não fui eleito, nem aceito, mas apareço com meu peito! Protegido com palavras, domino as mentes fracas. Na ânsia de poder, englobo o globo e imponho meu jogo! Jogo de tabuleiro, valendo a tua vida. Um, dois, três, te domino. Não fuja, volte! É isso ou nada. E no nada te condenam, condenado ao ruim.
Estou aqui pra te tirar o sorriso da cara. Portanto, fique atento. Estou sempre atrás de você. Roubando seus direitos, instituindo-lhe deveres! Jovem, cale-se! Veto, mas sou o cálice.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Lábios Gruta-fruta.

Se em teus lábios me prender,
Não é de se surpreender,
Que jamais me saia.

Se em tua saia rodopiar,
Hei de mais e mais te amar,
Mesmo que de forma bruta.

Se de bruta forma amar-te,
Sustento cá meu baluarte,
De mancebo andarilho.

Que sustenta o estribilho,
Tal qual o poeta Idílio,
O faceiro que canta a fruta,

Lembrando-me cá da cicuta,
Que é distrair-me dos lábios gruta,
Sem querer perder essa luta.