Talentosos, perfeitos, bonitos, cheirosos, charmosos e modestos:

domingo, 21 de novembro de 2010

Ônibus

O ônibus está cheio, mas está vazio. Cheiro de minutos atrás sendo transposto pelo odor de daqui a pouco. O calado ao meu lado tagarela silencio. O vento sopra, o vento chora.
Tudo o que eu queria era um condutor amigável, que me perguntasse, sorridente: -Esta é tua amada? Fica com ela, mancebo contente! Aviso tua mãe do atraso, e omito tuas peripécias.
Obrigado, Severino-da-mão-no-câmbio, mas não é permitido. Mamãe jaz na poltrona, à luz de meia vela, sangrando o relógio com os olhos, esperando minha pessoa.
É tempo perfeito para realizar meu sonho (infantil, confesso) de romper o lacre da ventana, saltar para longe do motorizado, e correr, banhado de luar, até a sombra vermelha no muro esverdeado, e mirar a íris verde no quarto avermelhado.
Quero sonhar o meu sonho, onde se faz um cinema. Um filme de amor com a atriz favorita. Peço ao divino que a tela intocável torne-se teatro, onde toco-lhe a tez, onde o sonho não sonha; onde a imagel é real, e o líquido jorra.
Mas acordo do sonho. Estou descendo na parada pública. Faço dos três degraus uma escadaria ao inferno. Desço pra dizer, de vez, que não estou mais lá: sem envolcro, sem calor de corpo frio. Obrigado, ônibus!, real barca do tinhoso!
269 razões pra correr de volta.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Chaminés,

O homem,que será?
...
Que será esse ser,que nem em sua própria reflexão consegue se resumir?
Que serão seus gestos,vociferações e gírias?
Que serão seus devaneios e desejos?

O que será?!


E que será de suas fêmeas?
...
Que será dessas que se dão e não dão?
Que se temos não temos?
Até o fim?

E as chaminés?
Aquelas que defumam o cheiro-homem?
Suspendendo o enxôfre e só deixando as rosas?
Multicoloridas,pra que as beijemos e inalemos em nossos fundos e numerosos respirares...

AI,as rosas!
AI,as damas da noite!
AI,a doce senhora!

E o que será de mim??
Eu vos pergunto...
...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Luminária

Sente-se ao meu lado e provaremos dos cantos da vida. Venha, sente-se ao meu lado para que proseemos um pouco.
Venha! Não se embasbaque! Não mordo, só vocifero palavras estranhamente confortáveis. Olhe nos meus olhos! Vê um novo horizonte, repleto de novas ideias?, de monstros amigáveis prontos para levantar vôo na tua direção?
Pois bem... cá estamos. Entreolhemo-nos. Olhando-nos ao mesmo tempo, na mesma intensidade, para mostrar aos presentes ausentes que nosso amor é atrevido como os arranha-céus, que vêem o infinito como se pudessem tocá-lo. Toquemos nós no infinito, no amor infinito, na chama ininterrupta abastecida de calor eterno.
Podemos, sim, trocar carícias, levemente levêdas; de forma sutil e, digo mais, tântrica.
Deixe-me observar teus olhos crescendo, teus membros me tocando, teu corpo me fazendo estátua, pelo quão abísmico é teu formato.
Não se ouve mais o doce sabiá. Quer que ele volte ao seu galho, próximo às ventanas?, cantarolando suas acidentais composições? (...) Tens razão. A respiração traz sensações sensíveis ao não se ouvir o antes audível som da natureza peralta.
Um e um não mais formam dois, mas somente um, entrelaçado em meio a sentimentos indubitáveis de afeto, mas nunca perdido em meio a eles. Há sempre a direção, que é seguida inconscientemente, e o corpo navega.
Agora somos um todo. Agora tu és toda, agora sou todo. Meu, seu, nosso, fechado; mas mostrando a todos, sem querer, que somos um conjunto de dois. Qualquer gralha vê, qualquer canário vê. Basta ler nas linhas verdes de teus olhos.