O ônibus está cheio, mas está vazio. Cheiro de minutos atrás sendo transposto pelo odor de daqui a pouco. O calado ao meu lado tagarela silencio. O vento sopra, o vento chora.
Tudo o que eu queria era um condutor amigável, que me perguntasse, sorridente: -Esta é tua amada? Fica com ela, mancebo contente! Aviso tua mãe do atraso, e omito tuas peripécias.
Obrigado, Severino-da-mão-no-câmbio, mas não é permitido. Mamãe jaz na poltrona, à luz de meia vela, sangrando o relógio com os olhos, esperando minha pessoa.
É tempo perfeito para realizar meu sonho (infantil, confesso) de romper o lacre da ventana, saltar para longe do motorizado, e correr, banhado de luar, até a sombra vermelha no muro esverdeado, e mirar a íris verde no quarto avermelhado.
Quero sonhar o meu sonho, onde se faz um cinema. Um filme de amor com a atriz favorita. Peço ao divino que a tela intocável torne-se teatro, onde toco-lhe a tez, onde o sonho não sonha; onde a imagel é real, e o líquido jorra.
Mas acordo do sonho. Estou descendo na parada pública. Faço dos três degraus uma escadaria ao inferno. Desço pra dizer, de vez, que não estou mais lá: sem envolcro, sem calor de corpo frio. Obrigado, ônibus!, real barca do tinhoso!
269 razões pra correr de volta.
Tudo o que eu queria era um condutor amigável, que me perguntasse, sorridente: -Esta é tua amada? Fica com ela, mancebo contente! Aviso tua mãe do atraso, e omito tuas peripécias.
Obrigado, Severino-da-mão-no-câmbio, mas não é permitido. Mamãe jaz na poltrona, à luz de meia vela, sangrando o relógio com os olhos, esperando minha pessoa.
É tempo perfeito para realizar meu sonho (infantil, confesso) de romper o lacre da ventana, saltar para longe do motorizado, e correr, banhado de luar, até a sombra vermelha no muro esverdeado, e mirar a íris verde no quarto avermelhado.
Quero sonhar o meu sonho, onde se faz um cinema. Um filme de amor com a atriz favorita. Peço ao divino que a tela intocável torne-se teatro, onde toco-lhe a tez, onde o sonho não sonha; onde a imagel é real, e o líquido jorra.
Mas acordo do sonho. Estou descendo na parada pública. Faço dos três degraus uma escadaria ao inferno. Desço pra dizer, de vez, que não estou mais lá: sem envolcro, sem calor de corpo frio. Obrigado, ônibus!, real barca do tinhoso!
269 razões pra correr de volta.