Talentosos, perfeitos, bonitos, cheirosos, charmosos e modestos:

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Codicilo

E não duvidei do que viria a ser.
E não duvidei do que viria a ter.
E duvido que não mais será.
E duvido que um dia se vá.

Tudo e todos que jazeram e voaram, cacei e encaixotei.
Caixa fechada, martelada, escondida, guardada por todos os monstros.
Não vou abrí-la nunca mais, mas aponto com todos os dedos: ali está o que passou,
Todavia, cada festejo, cada gracejo, cada lampejo e percevejo que me passaram em presença da alvez, da rubiez e esmeraldez tuas, deixei soltas no bolso. Quando me ocorre de telespectar uma quermesse qualquer, enfio a mão. Tiro risadas, grulhas, peraltices, bulícios, juventude.

E quero transbordar os bolsos de momentos. Quero que os ponteiros dos relógios sejam movimentados por risos. Quero que o cuco cante o amor. Quero que badale suspiros. Quero prá sempre. Até que a foice venha me tocar.
E quando a foice acontecer, peço que fiques com meu maior bem: fica contigo mesma. Num ápice de generosidade, no cume da bondade, deixo-te minha fonte de alegria, jogo a ti minha razão para sentar ao sopé da cama, olhar o escaldo Sol e dizer às chinelas que tudo tem uma razão.
E subo, com a aliança. Grande como o herói Grego, radiante como a Arca de Moisés, glorioso como Júpiter, feliz como eu mesmo.
E de lá te olho, e te guardo. E lá te espero, e te aguardo. Aguardo para que sentes à minha direita, e encoste teu rosto em meu peito. Com um sorriso-de-canto, te beijo a testa. Protetor, protegida.

Um comentário:

Vanessa disse...

Caso a foice toque, a espera é recíproca.