Talentosos, perfeitos, bonitos, cheirosos, charmosos e modestos:

sábado, 12 de novembro de 2011

A vida não necessariamente é literária

A vida é literária. Cada um tem o seu jeito de viver, tais quais os livros têm suas diretrizes. Há quem faça da vida um parágrafo, mas há outros que acabam por publicar uma novela. Alguns são best-sellers, que aparecem em capas de revistas. Outros, encontram-se somente nos melhores sebos do Centro. Cada qual com seu cada quem, a vida passa do jeito que se escreve.
Há os barrocos, que num dilema entre céu e inferno, vivem o exagero. Não sabendo onde parar, soam incerteza e choram a dúvida. Vociferam anjinhos de fogo, sem saber para que lado ir. Extremamente rebuscados, cheiram a santos-do-pau-oco. Ora tranquilos, ora pecadores-mor, às vezes alguns não sabem onde parar, e chegam a ter aparência de rococó.
Há os árcades, que 'carpediam' bem longe do centro urbano, com a maior simplicidade. O pastoreio é, na verdade, é uma metáfora no século vinte e um para o isolamento individual em qualquer cantinho agradável, onde o neoclássico possa pensar sua musa. Sem muito rebuscamento, apenas cantam as graças às Marílias, com perigoso toque de idealização. Ah, Marílias nunca são perfeitas. Mas vai lá.
Há os românticos, que, agora sim, alarmantemente idealizam suas virgens e, num piscar de olhos, deparam-se deitados no chão da taberna. Nação, mulher ou sociedade, esses sempre se decepcionam. Ninguém é perfeito, muito menos fora do papel. Peris não se encontram nem na Amazônia, pra onde devem ter fugido quando derrumaram a Mata Atlântica. Desistam, amigos, Álvares de Azevedo morreu aos vinte anos.
Há os realistas, que veem as coisas de olho mais aberto. Atentos às coisas como realmente são, desconstroem qualquer tipo de endeusamento. Olham os olhos de cigana de Capitu e realmente a veem como a culpada. As coisas que parecem ser reais, nem sempre o são. Assim, pedem um narrador oniciente, para que se tenha certeza do ocorrido. Mas não adianta ouvir, se os humanos reais não conhecem nem a si mesmos.
Há os parnasianos, que se preocupam mais com a forma do que com o conteúdo. Reparam mais no trabalho do ourives estampado pelo corpo do que nos conflitos desse profissional de fé. Pro inferno esses daí. Sinto sono de seus sonetos. A alienação ao que realmente se passa por fora da métrica é deplorável.
Há os simbolistas, que de introspectivos tudo têm. Buscando o sonho, correm à musicalidade, e gritam, chegam à beira da loucura. Seu branco simboliza a sua indefinição. Não sabem se sonham ou se vivem, na verdade. Nessa incerteza e névoa, esses indivíduos trocam sentidos e repetem sons, numa esquizofrenia vital que se torna incômoda.
Há os modernistas, que zombam de tudo, que criticam tudo, que revolucionam tudo. Depois de passarem os dois patinhos na lagoa, mostraram que a vida não precisa ser certinha, nem bonita, nem complicada. Pode ser, se quiser, mas cada um tem um jeito. Pra quê se arrumar de mais se todo mundo acaba pisando na poça, uma vez ou outra? Mas às vezes passa dos limites, e mostra-se simplório de mais. E agora, José? O que faço? Vou pra Pasárgada?

O fato é que minha vida não é de academia. Vivencio um pouco de cada. Tenho cara de livro didático? Tenho é cara de homenzinho. Vou levando até que a vida me leve, sendo a geração que eu bem entender. Entender, não, que não me entendo, mas escrevo o que sai, vivo o que dá. Desculpem-me se não estou Top10, mas nem todo mundo fica no auge pra sempre. Às vezes a caneta falha, mas quase sempre está com carga. Por favor, quando acabar, me ajude a trocar, pois a vida não pode parar por um pequeno infortúnio. Quando dá uma pausa, um marcador de página deve ser usado, para que não se perca o fio da meada na leitura dessa Enciclopédia de 73,1 anos.

2 comentários:

Gabi disse...

Na boa... Mais impressionada a cada post novo aqui, Luan.. rsrs

Sem palavras.

Parabéns.

Raíssa Christini disse...

Uma pessoa que se identifica com cada escola literária pode se considerar em plena crise de identidade?


(boa, garoto!)